Que o sistema tributário brasileiro é o mais complexo do mundo não é mais novidade para ninguém. Porém, em 2016, o Banco Mundial resolveu colocar isso em números: em um relatório intitulado Doing Business, que analisa a burocracia tributária no mundo, o Brasil apareceu em último lugar em uma lista de 211 economias no que se refere ao tempo desperdiçado no cálculo de tributos, no ano de 2015. De acordo com a publicação, uma empresa brasileira de porte médio gasta, em média, 2038 horas por ano para lidar com a burocracia tributária. Agora pasmem: a média mundial foi de 273 horas por ano.
Esse dado, de fato, não faz com que empreendedores estrangeiros saiam correndo para investir no Brasil. Mas, se olharmos o copo meio cheio, significa também um grande número de oportunidades para aqueles que dedicam essas 2038 horas por ano lidando com tributações: os profissionais da área Fiscal.
Imagem: Imposto de Renda 2017 2016 Prof.Jean Javarini Declaração IRPF
Mas o que buscam os gestores na hora de contratar profissionais dessa área? A professora do Confeb Melice Finato elucida algumas questões:
“Engana-se aquele profissional que imagina que basta se atualizar com a legislação para crescer na carreira Fiscal. Justamente por nosso sistema tributário ser extremamente complexo, e aparecerem novidades todos os dias, os profissionais dessa área costumam pensar que o trabalho de se atualizar (que não é pouco) é o suficiente, mas na verdade não é. Isso é o básico que um profissional deve saber, não o diferencia em nada”.
Visão sistêmica
Se pararmos para analisar, todos os processos que uma empresa realiza são diretamente afetados por leis fiscais. Isso significa que o profissional da área Fiscal precisa se atentar a todos eles. Infelizmente, não é isso que acontece na maioria dos casos. Geralmente esse profissional só tem a visão do que está acontecendo na hora que o assunto chega para ele, já na ponta do processo quando ele precisa fazer a conta dos impostos e preencher as obrigações do Fisco. Essa característica de atuação pode ser extremamente prejudicial para a empresa, veja no exemplo de que forma:
Uma empresa recebe 1000 notas sobre suas compras todos os meses, das quais 200 não são computadas por conterem algum erro de inserção no sistema. O profissional da área Fiscal irá corrigir essas 200 notas, uma a uma, para então poder enviá-las ao Fisco. E esse processo de erro/ correção se repete todo mês. Já um colaborador com visão sistêmica iria voltar os passos do processo para entender onde estão acontecendo os erros. A partir de identificar a área onde as falhas acontecem, ele iria orientar os profissionais de outros setores a maneira certa de registrar as notas, evitando assim o trabalho de correção no mês seguinte.
“A área Fiscal, em vez de ir à raiz e resolver o problema, fica enxugando gelo. Resolve o mesmo erro todo mês no lugar de corrigi-lo em sua fonte e evitar o retrabalho no mês seguinte. O profissional que tiver visão sistêmica e quebrar este padrão com certeza irá se destacar dos demais”, aconselha Melice.
Inglês irretocável
A habilidade de falar línguas parece ser obviamente necessária em toda e qualquer área nos dias de hoje. Entretanto, este ainda é um gap muito forte nos profissionais do setor Fiscal. Essa skill se mostra estritamente necessária na hora de lidar com investidores estrangeiros, por exemplo. E não basta ter um inglês “ok”, neste caso, é preciso um domínio exemplar da língua. Imagine a cena: você está em uma reunião com possíveis investidores de outro país, ao lado da equipe que fará a negociação. Você tem uma única, e complicada, missão: explicar para os “gringos” como funciona o sistema tributário brasileiro e convencê-los sobre a quantidade necessária de dinheiro a investir para cobrir nossas tributações. Há de se convir que essa responsabilidade não soa nada fácil, e de fato são poucos os que a cumprem com maestria.
Visão Financeira
“Se o profissional tiver forte domínio da língua inglesa e visão sistêmica, ele já irá se destacar no mercado. Entretanto, se ele quiser ser promovido, é preciso aprimorar sua visão financeira”, afirma nossa professora.
Melice explica que um gap muito presente nos profissionais da área é a falta de foco nos resultados da companhia. “É preciso ter menos visão ‘fiscalista’”. Isso significa exercer suas atividades do dia a dia, como cálculo de impostos, por exemplo, já levando em consideração a forma como isso afetará o fluxo de caixa da empresa. Essa visão analítica pode impactar diretamente nos resultados da companhia, aumentando ou diminuindo os custos.
O profissional precisa ser capaz de explicar aos seus superiores de que forma funcionam as tributações, de uma maneira compreensível a quem não é da área Fiscal, ou seja, deixando de lado o “tributês”. Informações passadas de forma mais inteligente podem colaborar de maneira significativa com a diretoria na hora da tomada de decisões.
“O profissional que tiver habilidade de fazer essa tradução para quem não é da área Fiscal, com certeza tem mais chances de ser promovido que os demais”, afirma Melice.
Que tal aproveitar essas dicas de ouro e começar a colocá-las em prática? ;)