Dom ou técnica? Descubra como desenvolver a criatividade no meio corporativo
Muita gente vê a criatividade como um dom. Uma característica que as pessoas já possuem desde a infância. Porém, muitos especialistas defendem que essa ideia é equivocada e que é possível sim desenvolver a criatividade profissionalmente.
Entrevistamos nove desses especialistas, que dedicam sua carreira à criatividade e inovação, para conhecer quais técnicas podem ser ensinadas e descobrir o que as empresas podem fazer para tornar seus colaboradores muito mais criativos.
Confira com quem conversamos e as entrevistas abaixo:
Denilson Shikako - Palestrante, Consultor e Fundador da Fábrica de Criatividade
Diego Seguro – Diretor de Inteligência de Mercado na Códigoo
Henrique Szklo – Coordenador da Escola Nômade para Mentes Criativas
José Predebon – Autor e Palestrante de Criatividade e Inovação
Laura Baggio – Produtora de Conteúdo Socioemocional
Marcos Mayer – Palestrante, Criador e Produtor de Conteúdo
Marília Cardoso – Consultora de Inovação e Comunicação
Ricardo Basílio Gonçalves – Mentor em Criatividade e Inovação na 120% Coaching
Yvan Zucareli – Consultor de Marketing na ZN Coworking
A criatividade é um dom ou uma competência que pode ser adquirida?
Denilson Shikako - Eu acho que tem uma porcentagem de dom, há pessoas com mais propensão e são naturalmente mais criativas, mas, sem dúvida nenhuma, é uma competência que pode ser adquirida. Eu conheço muitas pessoas que eram muito pouco ou quase nada criativas, que conseguiram aprender e hoje são incrivelmente criativas. Tem gente que tem mais facilidade para uma coisa que para outra, mas se você estudar e quiser, você consegue aprender.
Diego Seguro - Uma das infinitas formas da criatividade é a combinação, que é um conceito da matemática. Assim como a quantidade de elementos de um conjunto define o número de subconjuntos, o repertório de um indivíduo e a sua aptidão por fazer combinações aumentam o resultado da criatividade. E assim como temos pessoas mais talentosas que outras no desempenho de qualquer atividade física ou intelectual, também temos indivíduos mais criativos que outros - caracterizando, sim, um dom.
Porém, em muitas das nossas atividades cotidianas, a criatividade adota um viés de funcionalidade - visando a resolução de problemas ou melhoria das coisas. Nesse aspecto a criatividade pode e deve ser treinada, estudada, resumida em processos criativos e abastecida com repertório, através do acúmulo de conhecimento e experiências. Porém, o mais divertido nisso tudo é que a criatividade busca o novo e só sabemos se algo é realmente novo se correr o risco de parecer ridículo. Ou seja, ser criativo é correr esse risco.
Henrique Szklo - Não é dom. Como você disse, é uma competência como outra qualquer que pode e deve ser desenvolvida, isso é essencial para a nossa vida. Pessoalmente e profissionalmente. No trabalho, a criatividade é cada vez mais uma vantagem competitiva. Pesquisas recentes apontam que a criatividade é a competência mais desejada pelas empresas. É claro que cada um tem suas limitações. Você precisa conhecer e utilizar o processo de desenvolvimento criativo, mas, como no futebol, por exemplo, mesmo treinando muito, nem todo mundo será um Neymar. O que não quer dizer que isso deva nos desanimar. O desenvolvimento pessoal precisa ter como parâmetro nós mesmos. O quanto podemos melhorar. A comparação com outros serve apenas para nos motivar a avançar. Concluindo, não existem contraindicações para se desenvolver criativamente, ao contrário: a vida é muito melhor com criatividade.
José Predebon - Criatividade é uma característica do raciocínio de nossa espécie; assim, todos nós nascemos com essa competência, só que em níveis pessoais; alguns com muita capacidade, outros com menos. Ela não pode ser "adquirida", mas pode ser desenvolvida, pela prática e pelo treino.
Laura Baggio - A criatividade é uma competência, não a vejo como um dom. Todo ser humano é potencialmente criativo e entendo que pode desenvolver essa competência por meio de técnicas.
Marcos Mayer - A criatividade é uma competência e, como tal, pode ser adquirida. A criatividade é uma capacidade, uma habilidade, que precisa ser desenvolvida. E desenvolver é a palavra certa. Se algo está envolvido e, portanto, não pode ser acessado, é preciso desenvolver esse algo. Todos nascem com um enorme potencial para a criatividade, mas potencial não é a mesma coisa que potência. Potencial é aquilo que é suscetível de existir ou acontecer, mas sem existência real. Pode ou não acontecer. Potência é aquilo que tem poder, força, vigor e importância.
Evidentemente, seria leviano dizer que todas as pessoas têm o mesmo potencial de capacidade criativa, porque o desenvolvimento da criatividade começa no dia zero da existência de qualquer pessoa e, portanto, não depende inteiramente do indivíduo. Mas qualquer pessoa é capaz de desenvolver sua criatividade.
Marília Cardoso - Vários estudos da neurociência já comprovaram que o nosso cérebro é mutável, não é um órgão que vai morrer da mesma forma que nasceu. A capacidade da geração de neurônios vai se transformando de acordo com os estímulos. Só isso já responde a questão de que a criatividade não é um dom. Lógico, várias pessoas possuem mais aptidão que outras, mas, acima de tudo, é uma questão de desenvolvimento. A gente precisa começar a pensar de uma forma diferente para se tornar mais criativo. Eu acredito muito nos estímulos, existem técnicas e ferramentas que podem ser utilizadas para que a gente conquiste uma capacidade cada vez mais criativa.
Ricardo Basílio - Em meu ponto de vista, a criatividade é uma competência que pode ser adquirida ao longo da vida. E sabe por quê? Porque o combustível da criatividade é a imaginação e todo o ser humano sem limitações cognitivas pode imaginar, então, creio que esta competência pode ser desenvolvida a qualquer momento desde que haja os estímulos corretos e um trabalho intenso frente aos desafios a serem resolvidos.
Yvan Zucareli - Todos nascemos criativos. Infelizmente, com o passar do tempo vamos perdendo essa capacidade, alguns menos. Olhe para uma criança de cinco anos, dê a ela um problema e diga que ela tem uma gama de objetos ou ideias para solucionar esse problema. Ela se importará em resolver aquilo. Mesmo que sua solução não seja factível, ela resolverá o problema. O que ela fez? Apenas usou sua criatividade para isso.
Dê o mesmo problema para um adulto de trinta anos, ele demorará cinco vezes mais para resolver e muitas vezes não conseguirá. O adulto, diferente da criança, está sendo racional. Criatividade é acessar lugares e fazer conexões neurais diferentes. Podemos resgatar e desenvolver essa competência que já temos, basta refazermos essas conexões. Portanto, em minha opinião, é um dom que podemos desenvolver.
Como é possível desenvolver a criatividade?
Denilson Shikako - Primeiro é se permitir gostar de coisas novas. A gente tem uma tendência a não gostar do novo, gostar de ficar na zona de conforto. Segundo é gostar de buscar uma segunda resposta. Estamos acostumados a encontrar uma resposta e ficar feliz, procurar uma segunda resposta é um jeito de exercitar o cérebro. Terceiro é olhar para onde você está e perguntar o que você pode fazer para melhorar isso. Ideias são grátis e, normalmente, geram resultados muito bons, tanto financeiros como de tempo ou oportunidade.
Depois que a gente fizer tudo isso, para executar a criatividade, é preciso você ter um problema e ter que resolver. Existem ferramentas para isso, desde ferramentas famosas como design thinking e o brainstorm até ferramentas mais específicas.
Diego Seguro - É possível desenvolver a criatividade para propósitos bem variados. Existem pessoas muito criativas desenvolvendo memes que nos farão rir brevemente, assim como existem advogados buscando interpretações criativas das leis. Acho que a pergunta para todo aquele que deseja ser criativo é “para que quero ser mais criativo?”. A resposta para essa pergunta é fundamental para o segundo passo: mão na massa e exercícios.
Os dois primeiros passos para melhorar a criatividade é a busca por referência e o reconhecimento de padrões e regras. É preciso abastecer a mente com informações, que é a matéria prima da criatividade, para depois trazer esses padrões para a mente consciente, buscando pontos de contato entre todas as informações novas que foram absorvidas.
Depois de identificar as regras, é preciso quebrá-las! Existe algo de rebelde e subversivo na criatividade e isso se dá porque ela provoca algo novo, que desafia os padrões do senso comum. Algo só pode ser considerado criativo se surpreender, se quebrar as expectativas, propondo algo genuinamente atraente e melhor do que tudo que fora feito antes. Depois de quebrar as regras e propor algo inovador e criativo, a bagunça provocada pela criatividade precisa ser reorganizada, por isso precisamos focar em construir novos significados, narrativas e valores para o que foi criado, evidenciando a beleza da nova criação e seus impactos positivos. Um exemplo claro disso são as palavras. Sempre que uma nova tecnologia é criada, também criamos uma gama de palavras para explicar essa tecnologia. Expressões como compartilhar, curtir e comentar teriam um significado bem menor se o Facebook não existisse.
Henrique Szklo - Segundo a teoria que tenho desenvolvido ao longo dos últimos 15 anos, para desenvolver a criatividade você precisa transformar seu mindset por meio de basicamente três estágios. Primeiro: criatividade e comportamento estão unidos incondicionalmente. Se você observa a capacidade humana de criar, vai automaticamente estar observando também o comportamento. São cinco os elementos que influenciam nosso comportamento e, consequentemente, nossa capacidade de criar: código genético, padrões adquiridos, interação social, inconsciente coletivo e ambiente físico-social. Entendendo este esquema, você estará mais preparado para alterar seu mindset e, como “brinde”, vai ter realizado uma jornada de autoconhecimento.
Ao encerrar o primeiro estágio, sente-se a necessidade de descobrir o que fazer concretamente com este conhecimento adquirido. É preciso ter uma palavra de ordem, um conceito que oriente a sua visão de mundo com o objetivo de mudar o mindset de forma efetiva: chamo de subversão. A subversão é uma maneira de entender as coisas que nos rodeiam e de como observá-las. Enxergar além do senso comum. Olhar para as coisas é encontrar outros significados, outras alternativas, outras possibilidades. E isso precisa acontecer de forma ampla e irrestrita em sua vida, no seu cotidiano, na sua vida profissional e pessoal. Mas como incorporar a subversão em nossas vidas? É aí que entra o terceiro estágio: criar só se aprende criando.
A teoria é importante, mas ela isoladamente não promove mudanças reais. Só conseguimos alterar nossa forma de pensar com esforço e dedicação contínua. E só a experiência emocional fará isso acontecer. Exercícios, dinâmicas e constante alerta contra a zona de conforto são as únicas maneira de evoluir criativamente. Nosso desenvolvimento dependerá única e exclusivamente de nosso esforço contínuo. E não existe linha de chegada nesta corrida. Enquanto quisermos ter um desempenho criativo deveremos manter este sistema de dedicação. É como frequentar uma academia: não adianta fazer apenas um mês de exercícios físicos e achar que estaremos em forma para sempre. Enquanto quisermos os resultados, temos de continuar na labuta.
José Predebon - Pela prática e pelo treino, porém em cima de uma vontade que gere alguma disciplina – para vencer a inércia e colher todas as oportunidades que surgem.
Laura Baggio - Há várias formas de desenvolver a criatividade. O trabalho cooperativo é um caminho e entendê-la como competência é o começo de seu desenvolvimento.
Marcos Mayer - Essa é uma boa pergunta. E existem inúmeras respostas possíveis para ela. Eu mesmo escrevi um artigo com 30 dicas para o desenvolvimento da criatividade. Então, em vez de sugerir alguns passos para o desenvolvimento da criatividade, eu prefiro falar sobre duas atitudes que, inevitavelmente, levam alguém a ser mais criativo. A primeira delas é dar asas à imaginação. Usar a imaginação não é tão simples quanto parece e, certamente, não é (ou não deveria ser considerada) uma atitude infantil. Usar a imaginação é reservar um tempo exclusivo para não pensar em nada específico. É olhar para as nuvens e visualizar animais formados por elas. É sonhar acordado. É permitir que a mente vague sozinha, para longe da gente, sem nenhum tipo de limite ou restrição. A imaginação e a criatividade são coisas bem diferentes, mas estão intimamente relacionadas.
A segunda atitude é ser incansavelmente curioso. Imaginar é sonhar com coisas possíveis e impossíveis. Ser curioso é querer saber como as coisas acontecem. É querer saber como a vida acontece. É ler, ouvir, assistir, conversar e aprender sempre. É claro que existem diversas técnicas para se desenvolver a criatividade. Mas ser imaginativo e curioso é um ótimo jeito de tornar-se criativo quase sem querer.
Marília Cardoso - Treino. Algumas pessoas realmente têm mais facilidade, outras têm maior dificuldade, mas todas elas podem treinar. Existem várias técnicas e ferramentas que as pessoas podem utilizar. Eu gosto muito da metodologia dos "seis chapéus", em que cada chapéu tem uma cor diferente e as pessoas vão exercitando determinado papel dentro de uma atividade de criação. Brainstorm também é uma ferramenta muito utilizada, porém ela precisa ser bem aplicada, porque não dá para simplesmente colocar todas as pessoas que pensam de forma linear numa mesa e achar que a ideia vai sair só porque alguém falou que a gente precisa ter ideias. A gente precisa desconstruir, deixar de pensar de uma forma "causa/efeito", tirar nossas viseiras e olhar de uma forma mais ampla. É muito importante que a gente saia um pouco dessa ideia de que existe uma única resposta certa, que o mundo é dividido entre certo e errado, vencedores e fracassados.
Ricardo Basílio - Creio que existem dois importantes caminhos que podem acelerar o processo criativo. O primeiro é a família que incentiva e cria ambientes para que o ser humano esteja em contato com o novo e com a imaginação. Bons exemplos estão nas crianças, estimuladas pelos pais à imaginação e desenvolvem desde cedo à criatividade e, logo, fortalecem esta competência que os ajudam a enfrentar os desafios desde cedo.
O segundo caminho é a obtenção de background. Você já ouviu a frase “você é o livro que lê, os programas que assiste e as pessoas com quem interage?” Tudo isso, influencia e fortalece o processo criativo do ser humano.
Quanto melhor for o seu repertório, mais rápido você encontrará importantes soluções para os desafios propostos. Isso, porque a criatividade requer uma gigante imersão no problema ou propósito a ser solucionado/atingido. Esta frase refere-se à famosa colocação: “99% de trabalho e 1% de inspiração”. Repare que a criatividade aparece em sua potência máxima sempre em momentos de tensão, desafios e problemas. E são ambientes como estes, que a criatividade se mostra e o ser humano percebe o seu real potencial.
Yvan Zucareli - Em primeiro lugar, precisamos melhorar a conectividade neural de um indivíduo. Fazer isso não é uma tarefa tão complicada. Estimular formas de expressão ajudam. Escrita criativa, desenho a mão livre, escultura/construção intuitiva. Essas técnicas podem ser aplicadas de várias maneiras, utilizando a principal competência, que é o fazer (Maker), colocar a mão na massa, essa é a melhor ferramenta para isso.
Como a criatividade se relaciona com a capacidade de resolver problemas e conflitos no meio profissional?
Denilson Shikako - Eu costumo falar que se você quiser fazer chocolate, você precisa de cacau, que é a matéria prima do chocolate. Se você quer ter criatividade, qual é a matéria prima? Problemas!
Aprender a olhar, estruturar e escrever o problema é sem dúvida a parte fundamental do processo criativo, é saber que existe um problema e que você pode resolver. A gente não foi ensinado a escrever problemas. Se eu te perguntar quantos problemas na sua vida você escreveu no papel e pensou "vou resolver de forma criativa", eu duvido que você vai lembrar mais de cinco.
Geralmente as pessoas resolvem os problemas porque eles aconteceram, mas não porque escreveram sobre eles antes, você não pensou que ele poderia acontecer. Aprender a escrever, definir e determinar um problema é a matéria prima de um processo criativo. Existirão várias formas de resolver o problema e, ao escrevê-lo, você vai encontrar formar criativas para encontrar essas formas.
Diego Seguro - Relaciona-se diretamente e intimamente. Geralmente quando temos um problema complexo ou conflito existem múltiplos interesses e variáveis. Trocar o "ou" pelo "e" é uma excelente forma simplificar o problema para resolvê-lo, assumindo que todas as possibilidades devem ser consideradas. É preciso olhar para o problema de forma diferente para obter soluções diferentes e criativas.
Henrique Szklo - Por princípio, a definição de criatividade é justamente solução de problemas. É claro que é possível resolver problemas sem ser criativo, na verdade é o que mais acontece. Porém, ideias novas que não tem um propósito claro nem resolvem algum tipo de problema ou de necessidade não podem ser consideradas criativas. Dito isso, o indivíduo só vai conseguir usufruir de uma elevação de sua capacidade criativa se ela for introjetada, ou seja, se realmente passar a ser uma característica pessoal. Quero dizer que ninguém será capaz de ficar mais criativo apenas por uma decisão pessoal. Por isso, sua mudança de mindset deverá ser ampla, irrestrita e não reservada apenas a resolver problemas profissionais, mas todos aqueles que a vida se lhe apresentar. Conflitos entram no mesmo balaio. Sabendo como você funciona e como o outro funciona, adicionado à capacidade de encontrar soluções eficientes, a criatividade sempre será um diferencial.
José Predebon - A criatividade é um caminho para soluções, e a relação é automática com a solução de problemas, e é indireta (mas existente) com a solução de conflitos.
Laura Baggio - A criatividade possibilita encontrar soluções criativas para os problemas e conflitos de maneira única.
Marcos Mayer - Não sei se a criatividade tem relação direta com a resolução de conflitos no ambiente profissional. Precisaria pensar mais a respeito. Mas a solução de problemas é parte de qualquer processo criativo. Quer seja um problema como qual roupa devo usar para a minha entrevista de emprego ou como reduzir a mortalidade infantil causada pela falta de água potável, os problemas são o ponto de partida de qualquer processo criativo. Sir Ken Robinson define a criatividade como “o processo de gerar ideias originais que tenham valor”. Na minha opinião, esta é a mais perfeita definição de criatividade. Segundo ela, ideias criativas precisam ter valor, ou seja, precisam resolver algum problema. Então, eu definiria a relação entre as duas coisas de forma muito direta, afirmando que um problema é o que provoca nossa criatividade e a coloca em ação.
Marília Cardoso - Criatividade e resolução de problemas têm tudo a ver. O ser humano, pensando de forma linear, acredita que se ele tem um problema ele precisa buscar uma solução. E acaba que a solução não é inovadora. A ideia é que a gente consiga fugir desse pensamento tão lógico e tão linear para desconstruir e resolver os conflitos a partir de uma mentalidade diferente. Uma dica que eu acho interessante é buscar soluções análogas. Às vezes o problema que você tem na sua empresa pode ser o mesmo que uma outra empresa, de um outro segmento ou porte, também tenha e que eles encontraram uma solução que fuja na lógica do que seria trivial para a sua.
É muito importante que a gente fique de olho. Repertório é uma coisa fundamental. A criatividade tem quatro etapas. A primeira é a preparação, que é entender qual é o problema. Muitas vezes isso dá confusão porque as pessoas acham que têm um problema, mas na verdade o problema não é aquele. Às vezes o problema funciona como um iceberg, a gente só vê o que está na ponta, que muitas vezes não é a causa, é só a consequência.
A segunda é o repertório. Eu preciso ter informações e conhecimento bastante vasto porque uma coisa que eu fiz, talvez num momento de lazer, pode fazer sentido na resolução de algum conflito ou problema no meu trabalho. Quanto maior o nosso repertório melhor. Tem um exemplo que eu gosto bastente que é o da aula de caligrafia do Steve Jobs, que era uma matéria completamente aleatória, que não fazia parte do currículo dele na faculdade e isso foi o que deu origem a variedade de fontes e letras que temos hoje nos nossos computadores.
A terceira etapa é justamente a combinação, quando a gente tem aquele momento "eureka!" de descobrir dentro da preparação e do repertório o que vai me ajudar a resolver esse problema. E a quarta é a validação, que é quando eu, efetivamente, vou validar aquela minha hipótese inicial. Eu tenho um problema, dentro do meu repertório eu encontro uma solução e validei isso na prática para ver que aquilo efetivamente resolveu meu problema. É importante que a gente leve em conta todas as etapas deste processo.
Ricardo Basílio - A criatividade está totalmente conectada à solução de problemas e isto sabemos que é um fato. Para que ela exerça o seu real papel, é fundamental que a organização esteja aberta para ouvir os seus colaboradores, inseri-los nos processos e partilhar os reais problemas com quem atua na estratégia e na operação. Sem esta partilha, creio que seja muito desafiador uma organização resolver os seus problemas e atingir novos patamares em seu mercado.
Vejo ainda, que se há no ser humano disposição para enfrentar e resolver problemas, logo, ele está exercendo de forma genuína, o processo criativo em sua potência máxima.
Yvan Zucareli - Ser criativo o obriga a ser colaborativo. Para liberar a competência da criatividade precisamos pensar em design thinking, solucionar um problema exige uma série de competências que não estão centradas em um único indivíduo. A premissa é que, ao entender os métodos e processos de criar soluções, indivíduos e empresas sejam mais capazes de se conectar e revigorar os processos de inovação, apresentando assim soluções mais eficientes. Conexões geram colaborações, diminuindo assim conflitos e problemas.
Como as empresas podem ajudar os profissionais a serem mais criativos?
Denilson Shikako - Tem várias formas de conseguir isso. Primeiro é realmente capacitando, dando treinamentos de inovação, igual são oferecidos os cursos de Excel. Segundo é permitindo que as pessoas possam sugerir. As pessoas foram treinadas a vida inteira para não gostar de julgamento e esta é umas das coisas principais para um bom processo criativo. A empresa pode decidir que não vai julgar as ideias dos funcionários, permitindo o erro, gerando um ambiente lúdico onde existam cores, post-its, um lugar em que as pessoas propõem melhorias. Tudo isso já incentiva e cria gatilhos mentais para desenvolver a criatividade.
Diego Seguro - Acredito que as empresas deveriam parar de atrapalhar a criatividade dos seus profissionais. A falta da criatividade não está nos profissionais, mas nos processos de trabalho antiquados e nos modelos ultrapassados de gestão dos recursos humanos. Mas acredito que dois passos são fundamentais para construir equipes mais criativas: Fazer com que as pessoas se engajem na resolução dos problemas, valorizando as melhores iniciativas e ter reuniões planejadas para que todos falem, valorizando os profissionais que falam e colaboram com o seu ponto de vista.
As pessoas querem pensar e encontrar soluções criativas para os problemas, mas a falta de processos de inovação na cultura das empresas é o real problema. Disputas por poder, centralização da fala e falta de objetivos claros e comuns são alguns dos principais problemas que impedem o desenvolvimento da criatividade nas empresas. Falamos muito sobre inovação nos dias de hoje, mas as empresas que desejam manter a liderança precisam criar uma cultura de inovação que façam com que as pessoas sejam criativas continuamente.
Por essa razão, a inovação é um assunto de Gestão, RH, Marketing, Finanças, Desenvolvimento de Produtos e diversas outras áreas operacionais das empresas. Isso é o que torna a inovação difícil de ser implementada, fazendo com que necessite ser aplicada como cultura corporativa, se reinventando constantemente e se transformando em um modo único de trabalhar em cada organização.
Henrique Szklo - Como disse, esse tipo de evolução só acontece com grandes esforços. Por isso, se uma empresa quiser fazer um movimento realmente efetivo no desenvolvimento da criatividade de seus profissionais, vai ter de administrar uma mudança de cultura. E esse movimento certamente vai, num primeiro momento, desagradar a maioria, pois estão todos enredados na zona de conforto. Para realizar essa tarefa, o desejo e a iniciativa deverá vir de cima, do topo da pirâmide. Sem que a direção da empresa esteja engajada na missão, nada acontecerá.
José Predebon - As organizações podem ajudar a disseminação da criatividade de muitas formas, porém basicamente pelo incentivo, ao não punir as tentativas e ao premiar os sucessos.
Laura Baggio - Começando por criar espaços de compartilhamento, possibilitando trabalhos colaborativos e ensinando formas de pensar mais amplas e menos constritas. A empresa tem um papel protagonista neste desenvolvimento do profissional.
Marcos Mayer - Recentemente escrevi um artigo sobre criatividade no trabalho no qual eu apresento algumas ações que empresas podem colocar em prática para promover a criatividade. Basicamente, eu destaco três possibilidades.
A primeira e mais importante maneira de uma empresa promover a criatividade e um ambiente criativo é permitir (e até incentivar) o erro. É claro que não se trata de promover o erro pelo erro, mas de criar um ambiente em que as pessoas saibam que errar faz parte do processo.
A segunda maneira é abraçar o diferente. Podem ser pessoas diferentes, de origens diferentes, que pensam diferente e que se vestem diferente. Também pode ser um ambiente diferente, com jeitos diferentes de fazer reuniões e ambientes montados de forma diferente. Um ambiente assim, com tanta diversidade, é uma ótima maneira de gerar ideias diferentes.
A terceira maneira é criar algumas ações formais para o desenvolvimento da criatividade. Pode parecer contraditório “formalizar” a criatividade, mas, muitas vezes, é o melhor jeito de começar a criar uma cultura de criatividade e inovação. Criar um ambiente criativo em uma empresa é uma mudança cultural. Demanda tempo e esforço. E, como tudo que é importante, só existe um jeito de obter sucesso: começando.
Marília Cardoso - As empresas têm um papel fundamental, mas que muitas vezes é ignorado. É muito comum hoje empresas colocarem puffs e post-its, e acharem que estão criando um ambiente mais inovador e mais criativo. Mas, na verdade, a criatividade é, acima de tudo, um estado mental. A gente precisa trabalhar o mindset da empresa toda, principalmente entre os líderes. Eles precisam acreditar que a criatividade é importante, se não fica apenas na ideia de "pensar fora da caixa", mas você vai voltar para sua baia, resolver suas pendências e não ter tempo para fazer suas conexões e aumentar seu repertório. E muitas vezes, as empresas cobram pela criatividade, e não zelam pela conquista, pela criação de um ambiente que realmente seja inovador. Eu acho muito importante que as empresas comecem a adotar algumas ferramentas pra que seja criado um ambiente que favoreça a criatividade. Eu acho que ninguém tem a perder, muito pelo contrário, ao criar um ambiente mais criativo, permissivo, colaborativo, onde as pessoas possam encontrar a parte que falta numa ideia. Uma ideia nunca nasce pronta, eu tenho um insight que pode vir a se tornar um produto, um serviço. Mas, geralmente, quando eu converso com outras pessoas eu descubro que a outra parte tem a outra parte da ideia que, quando combinadas, surge a solução.
Ricardo Basílio - No ambiente corporativo, a criatividade é um solo fértil, pois a quantidade de problemas levantados faz com que esta competência seja extremamente valorizada no mercado.
Assim, creio que uma das formas para potencializar a criatividade no ambiente corporativo seja a criação de workshops e treinamentos sobre o tema, até mesmo para desmistificar o assunto, pois a criatividade não é um dom, não é para artista apenas, é para todo o ser humano que deseja crescer e ajudar pessoas e organizações a serem mais e melhores frente aos seus desafios.
Outro ponto importante é oferecer cursos e conteúdos para os colaboradores como livros, metodologias e ferramentas que os ajudem a construir soluções em seu dia-dia e depois discutam e pratiquem exaustivamente tais conteúdos no ambiente corporativo.
Yvan Zucareli - Em primeiro lugar, criando um ambiente harmonioso. Relaxar é um dos principais fatores para se conseguir aflorar a criatividade. Equipes multidisciplinares e colaborativas ajudam no processo. Pessoas com visões distintas, que sabem apresentar seu ponto de vista, são fundamentais para o processo. Individualmente, as empresas precisam criar a cultura colaborativa, um “chefe” só delega, já um “líder” participa, essa máxima tão clichê é uma das premissas para o desenvolvimento profissional de uma equipe. Incentivar seus colaboradores no desenvolvimento de suas competências, com cursos, palestras e atividades inovadoras, complementam o pacote para isso.
Comments