Tributação no setor de tecnologia: desafios e perspectivas para o futuro
O setor de tecnologia é um dos mais dinâmicos e cruciais para o desenvolvimento econômico global, sendo responsável por 6,5% do PIB brasileiro em 2023, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom)¹. No entanto, as empresas que operam nesse setor enfrentam desafios significativos relacionados à tributação, especialmente no Brasil, onde o sistema tributário é conhecido por sua complexidade.
Desafios tributários no setor de tecnologia
Um dos maiores obstáculos enfrentados pelas empresas de tecnologia é a fragmentação do sistema tributário brasileiro. Empresas do setor lidam com tributos como ISS, PIS, Cofins e ICMS, que variam significativamente entre municípios e estados. A divergência no entendimento da incidência de ICMS e ISS sobre produtos digitais, como softwares e serviços de nuvem, gera litígios constantes, aumentando a insegurança jurídica e os custos de compliance.
De acordo com um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI)², as empresas brasileiras gastam, em média, 1.958 horas por ano para cumprir com suas obrigações tributárias — mais de 10 vezes a média global, que é de 163 horas. Para as empresas de tecnologia, que frequentemente operam em múltiplas jurisdições, esse ônus administrativo é ainda maior.
Além disso, com o crescimento do mercado de serviços digitais globais, a questão da bitributação se torna cada vez mais relevante. As plataformas digitais e serviços em nuvem, muitas vezes operando transnacionalmente, são tributadas tanto pelo país de origem quanto pelo Brasil, gerando um ambiente desfavorável para as empresas brasileiras competirem em pé de igualdade.
Perspectivas para o futuro
Com a Reforma Tributária em curso, espera-se que o Brasil adote um sistema mais simplificado e eficiente. A proposta do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) unificaria tributos sobre consumo e serviços, substituindo o ISS, ICMS, PIS e Cofins. Isso poderia resolver parte das questões relacionadas à tributação de softwares e serviços digitais, proporcionando um ambiente de negócios mais previsível.
A implementação do IBS pode não apenas simplificar o sistema, mas também aumentar a competitividade do setor de tecnologia. Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV)³, uma simplificação do sistema tributário poderia aumentar o crescimento do PIB em até 5% em 10 anos, impulsionando setores inovadores como o de tecnologia.
Além disso, a tributação global de grandes corporações tecnológicas está sendo discutida em foros internacionais, como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que propõe um imposto mínimo global para garantir que grandes empresas digitais paguem sua justa parte dos tributos. Se implementado, isso poderia diminuir as disparidades entre os regimes tributários e evitar a bitributação em transações internacionais, facilitando a expansão das empresas brasileiras no exterior.
Inovações e tributação
O setor de tecnologia é notório por sua rápida evolução. Com o avanço de inovações como inteligência artificial, blockchain e o uso crescente de serviços de nuvem, novas formas de monetização e operação surgem. Esse cenário cria um desafio adicional para a legislação tributária, que frequentemente fica desatualizada frente às inovações.
A tributação sobre criptomoedas, por exemplo, ainda está em fase de regulamentação, e muitas jurisdições estão apenas começando a lidar com a questão. Em 2021, o mercado global de criptomoedas foi avaliado em US$ 1,49 trilhão, segundo o CoinMarketCap⁴. No Brasil, ainda há incerteza sobre como tributar adequadamente essas transações, o que pode gerar distorções de mercado se não for adequadamente tratado.
Incentivos fiscais e políticas de fomento
Por outro lado, várias iniciativas estão sendo adotadas para estimular o desenvolvimento de empresas de tecnologia no Brasil. Programas como o Inova Simples e incentivos fiscais para startups, como o regime especial do Simples Nacional, ajudam a desonerar pequenas empresas do setor de tecnologia. De acordo com a Brasscom⁵, o número de startups no Brasil cresceu 207% entre 2015 e 2021, e grande parte desse crescimento pode ser atribuída a políticas fiscais voltadas para inovação.
O incentivo à pesquisa e desenvolvimento (P&D) por meio da Lei do Bem também desempenha um papel fundamental no crescimento do setor. Empresas que investem em inovação podem se beneficiar de deduções fiscais que reduzem sua carga tributária, estimulando a criação de novos produtos e soluções tecnológicas.
Considerações finais
O setor de tecnologia enfrenta grandes desafios tributários no Brasil, desde a complexidade do sistema até a insegurança jurídica na tributação de serviços digitais. Contudo, a Reforma Tributária, juntamente com as discussões globais sobre a tributação de grandes corporações tecnológicas, oferece um caminho promissor para um ambiente de negócios mais simplificado e competitivo. Com a implementação de incentivos fiscais e políticas de fomento à inovação, o setor de tecnologia tem o potencial de se tornar um dos motores do crescimento econômico do Brasil nos próximos anos.
https://atvi.com.br/blog/tributacao-no-setor-de-tecnologia-desafios-e-perspectivas-para-o-futuro/
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